Para que a decisão seja acertada, é preciso entender se a sugestão do assessor de investimentos está alinhada com seus objetivos
“Tenho uma excelente oportunidade de investimento para você”. Quem tem conta em alguma plataforma de investimentos de bancos ou corretoras já deve ter recebido uma mensagem ou e-mail assim. Mas antes de dizer sim ou não para a recomendação de seu assessor de investimentos, o cliente deve se atentar a algumas características do ativo oferecido e fazer algumas perguntas, para se certificar de que o produto faz sentido para sua carteira naquele momento. “Não existe produto melhor ou pior, mas os que são mais ou menos adequados a seu objetivo”, explica Larissa Frias, planejadora financeira do C6.
Antes de tudo, o plano
“É importante entender que o assessor de investimentos, seja ele um agente autônomo ou gerente do banco, tem uma prateleira de produtos financeiros à disposição para oferecer aos clientes. Mas a escolha do produto é uma etapa posterior do processo, é preciso ter uma visão estratégica antes”, diz Carlos Castro, planejador financeiro certificado pela Planejar.
Ou seja, é preciso que o investidor avalie alguns pontos antes de escolher em qual produto exatamente investir. O primeiro é ter clareza sobre quais são os seus objetivos para aquele investimento, e qual o prazo para cada um desses objetivos. Em segundo lugar, é saber qual o seu perfil como investidor, ou seja, o quanto está disposto a assumir de risco em troca de mais retorno.
A partir daí, você consegue desenhar o que seria uma carteira recomendada, de acordo com seus objetivos. Isso quer dizer escolher os porcentuais de alocação para seu portfólio, por exemplo: 30% em renda fixa pós-fixada, 30% em renda fixa atrelada à inflação, 20% em multimercados e 20% em renda variável. Diferentes plataformas têm suas carteiras recomendadas de acordo com diferentes perfis de investidor. Se você não tem um profissional te auxiliando nesse processo de desenhar a estratégia, essas carteiras podem ser um ponto de partida interessante, diz Castro.
Pergunta 1: Por que?
Para Diego Ramiro, presidente da Abai e assessor de investimentos, a primeira pergunta que o cliente deve fazer é simples: por quê? Trata-se de entender o que levou àquela indicação, e onde aquele produto se encaixa na composição da carteira.
Entender essas questões é essencial para saber se aquele produto está alinhado com seu objetivo, diz Larissa Frias, planejadora financeira do C6. “A gente investe por um objetivo, por mais abstrato que ele seja, e é importante que produto esteja adequado com prazo, objetivo de retorno e risco”.
Pergunta 2: O que é?
Muitas vezes, o assessor imagina que o cliente entende um produto financeiro, mas a realidade é que o investidor não tem todas as informações sobre ele. Vale perguntar para entender exatamente o que é aquele ativo: É um produto de renda fixa ou variável? Se for de renda fixa, é um pós-fixado, prefixado ou híbrido? Quais os riscos envolvidos?
“Se é um produto de renda fixa, é preciso entender qual o risco da empresa emissora. Se é uma debênture, CRI ou CRA, o investidor tem de entender que não há cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Se está no mundo de crédito privado, precisa saber o rating da emissão”, diz Ramiro.
Se a recomendação for um fundo de investimentos, qual sua estratégia e como foi seu desempenho em diferentes períodos? “É importante entender qual o histórico desse investimento, menos com o objetivo de olhar a rentabilidade passada, mas para entender a maturidade, se é um produto que está no mercado há bastante tempo”, diz Castro.
Pergunta 3: Qual o prazo?
Segundo Larissa Frias, outra pergunta a se fazer ao assessor de investimentos é sobre o prazo ideal de permanência naquele investimento. Alinhado a isso, qual a liquidez daquele produto, ou seja, qual o tempo para se conseguir acessar o recurso investido.
Esses são dois fatores que podem afetar diretamente o desempenho. “Uma debênture de dez anos, por exemplo, talvez não tenha liquidez antes do prazo. Se o investidor quiser vendê-la antes, pode ter que negociar no mercado secundário”, lembra Castro. Isso pode fazer com que aquele investidor tenha um prejuízo nessa operação.
Ramiro pontua ainda que, na renda fixa, é importante o investidor saber se aquele produto está sujeito à marcação de mercado em caso de saída antecipada. “Eu vejo que a maior dor é a renda fixa, por que não é bem explicada a questão da liquidez”, diz ele. “É importante saber se você pode ser penalizado caso saia antes [do vencimento], ou se pode haver deságio”.
Aqui, vale também entender como funciona a tributação desse produto. “Às vezes a gente deixa esse tema esquecido, mas existem produtos que funcionam muito bem no longo prazo especialmente pela tributação. São investimentos que têm uma tributação pesada no curto prazo, mas suave no longo”, diz Larissa.
Pergunta 4: Qual é o cenário?
Além de entender as características do produto de investimento, é preciso entender qual o racional por trás da recomendação: por que investir nesse produto nesse momento? Carlos Castro explica que nesse ponto, vale perguntar quais as expectativas para a economia, e como as projeções econômicas para o futuro podem afetar o investimento. “Se é um CDB que rende 100% do CDI, como que fica depois da decisão do Copom? E por quanto tempo o cenário deve continuar assim?”, exemplifica ele.
Na mesma linha, Larissa Frias sugere perguntar como aquele ativo deve se comportar em cenários adversos. “Existem vários produtos que são bons para alguns aspectos e ruins para outros”, diz ela. Por exemplo: o assessor recomenda o investimento X, que acredita que pode ser favorecido de acordo com o cenário previsto para os próximos meses. Se o cenário mudar, como aquele produto pode ser afetado? Entender isso te dá uma ideia de quais os riscos se está tomando e quais perdas podem acontecer.
Pergunta 5: Qual é a estratégia para aquele produto?
Se o investimento recomendado for de renda variável, Ramiro sugere ao investidor tentar entender melhor qual a estratégia. “Por que o assessor está recomendando aquela empresa? A estratégia é de longo prazo? Haverá ordens de stop loss ou stop gain? Com essas informações, o cliente já sabe o que pode perder”, diz. “Alinhar expectativas é o principal ponto”.
Fonte: Bora Investir